sábado, 28 de dezembro de 2013

O dia em que a minha vida parou - parte I

Era uma quarta-feira, dia 24 de julho de 2013. Eu estava em La Plata, caminhando em minha segunda semana presencial do mestrado que, coisas do destino é um projeto que desde o início tem como grande incentivador meu pai, meu querido pai. Almoçamos eu, Giuli e Chris como sempre, em nosso andar vazio da universidade, comendo nossos sanduíches caseiros e trocando histórias e confidências. Por muitos e muitos dias eu volto àquele almoço, àquela preciosa uma hora de almoço onde meu coração estava tranquilo, a não ser pela saudade da família, e onde uma gargalhada sonora era algo tão fácil de acontecer. Nunca imaginaria que depois daquele momento tanta coisa ia mudar...


Às 13:24 eu escrevi no facebook a seguinte mensagem:





Eu nunca poderia imaginar que essa era novamente uma das minhas habituais premonições que sempre aconteceram entre eu e meu pai.



Às 14h eu recebo uma mensagem do meu irmão, pelo facebook, de que ele tinha que falar comigo; quando ele me disse que precisava ser pelo skype pensei que algo muito ruim tinha acontecido... mesmo nos dias de hoje em que a tecnologia é algo tão natural eu demorei uma hora para entender o que tinha acontecido: meu pai tinha passado mal em Ubatuba, onde estava com meus filhotes queridos (para eu estar tranquila em La Plata), e por conta de dores no peito e nas costas tinha ido para a Santa Casa de Ubatuba. Nada tinha sido encontrado, a dor persistia e ele precisava ir para São Paulo de ambulância, o quanto antes.



Ainda à espera de notícias mais claras, pude falar com ele e suas palavras foram: "Mimi, estou bem, não precisa voltar para o Brasil". Minha mãe também foi categórica, eu tinha de esperar um pouco, parecia que não era nada grave, apenas stress... antes fosse...



Às 22h30, no Hostel onde estávamos alojadas, com meu pai já em São Paulo, a mensagem de todos que estavam aqui continuava sendo para eu ficar tranquila e esperar, que parecia que estava tudo bem. Às 23h tudo mudou. Meu irmão escreveu três frases para mim: Mimi o papai está em estado grave. Vai ser operado. É melhor você voltar. A partir desse momento foi como se a minha vida parasse. Nada mais tinha sentido, valor, importância, direção ou tamanho, nada mais além de meu pai, sua vida, sua presença, ele perto de mim.


Não sei nem o que senti, falei, vivi ou pedi, só sei que de alguma forma a Giu e a Chris me ajudaram a conseguir pegar uma mochila e sair rumo à Buenos Aires para de alguma forma me aproximar do Brasil, o  mais perto possível de onde a vida do meu pai estava e deveria estar. Nunca me disseram explicitamente que a vida dele estava em risco, mas eu soube disso a partir do momento em que li as frases do meu irmão... não sei nada de doenças cardíacas, mas a aorta dele estar rasgada, algo que eu sabia antes mesmo de conhecer a verdade, não podia ser algo simples.

Das 23h30 às 8h eu estive viajando. Passei por 4 cidades, três países, taxi, avião, esteira, escada, subi, desci, andei, corri, sentei, levantei, chorei e chorei. A uma hora e meia em que estive no avião de Buenos Aires até Assunção no Paraguai e as duas horas e meia de Assunção até São Paulo, onde do alto das nuvens eu não podia receber uma mensagem, uma notícia, nada, foram as piores horas da minha vida. O que eu vivi naquelas horas eu não desejo a ninguém, nem ao meu pior inimigo... estar voando sem saber se meu pai amado estava vivo ou morto, sem saber o que era de sua vida, foi algo que eu jamais poderei explicar. Não sei como aguentei, não sei como não enlouqueci, não sei como consegui chorar baixinho, porque foram horas de sofrimento sem tamanho... o que pensei? em tudo o que meu pai significa em minha vida, nele como este pai especial, aquele que me completa, que eu amo e que me ama acima de qualquer coisa, meu companheiro, meu amigo, meu conselheiro... e pensei em meu avô, pai do meu pai, que com mais de 90 anos superou duas cirurgias graves do coração, eu só pensava nele e em que ele haveria de ter passado a força de seu coração ao meu pai amado.

Lembro claramente de um momento em que olhei pela janela e ali, acima das nuvens, vi um céu único, lindo, com o sol nascendo sem uma única coisa além de seus raios e pensei: o que é isso? é a mensagem de que meu pai se foi ou a alegria dele ainda estar presente em minha vida?

Em Assunção em tinha ficado sabendo que a cirurgia tinha acabado, mas pelas palavras de meu irmão algo me dizia que ainda não era hora de comemorar...

Mais ou menos às 9h de quinta-feira dia 25 de julho eu pude finalmente abraçar meu irmãozinho lindo e minha mamãe amada e ir, de mãos dadas com meu Nanan, ver meu pai... entrei na UTI tremendo, sem saber o que pensar ou sentir, sem nada mais além de meu coração de filha em frangalhos, e quando meu olhos encontraram aqueles olhos dele fechados, inchados ainda, seu corpo todo coberto por fios, máquinas e apetrechos, não sabia o que sentir ou pensar, eu apenas queria que ele pudesse saber que eu estava de volta. Perguntei à enfermeira se eu podia beijá-lo, dei então muitos beijos em suas mãos, onde era possível, e falei bem perto do seu ouvido: "Papai, eu voltei, eu estou aqui, com você. Eu te amo"...


Faltava saber quando ele ia poder responder às minhas palavras...

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