sábado, 28 de dezembro de 2013

Meu querido presidente Lula

Meu querido presidente Lula,

Não sei ao certo quando conseguirá ler esta carta, mas escrevo com a esperança de que a história que vou te contar, possa um dia chegar até você levando toda a beleza que leva consigo.

Como deve saber, no mesmo ano em que meu pai sofreu seu grande drama político, no ano de 2005, eu e meu namorado espanhol decidimos nos casar e morar em Sevilha, Espanha. Foi uma decisão dura, difícil, ainda mais quando vi que teria de comunica-la justo no momento em que meu pai tão querido e tão amado tinha perdido tudo e se encontrava sem rumo. Surpreendentemente, foi ele a pessoa que mais me ajudou. Não fraquejou em nenhum momento, conseguiu mostrar-se feliz por me ver em busca de minha felicidade e enquanto minha mãe e meu irmão choravam pela minha partida, ele dizia: “Vou sofrer, mas sei que você vai ser feliz. Um dia eu também deixei tudo e saí de casa e sei como é quando o destino coloca a gente diante de uma coisa assim.”. E aí esteve ele, meu “Genoino” pai, ajudando-me e apoiando-me em tudo, justo quando ele estava passando pelo momento mais difícil de sua carreira política.

Foram meses de muitas emoções encontradas, por um lado a alegria de realizar meu grande sonho, casar com um grande amor, e por outro o medo, a tristeza e muitas vezes a culpa, de deixar minha familia em um momento tão delicado. Mas sempre meu pai esteve aí, conseguiu fazer com que minha mãe e meu irmão embarcassem comigo na minha decisão, conseguiu sempre trazer palabras positivas e esteve comigo, fisicamente, mais do que nenhuma vez em nossa vida de pai e filha. Sabe Lula, você bem sabe, meu pai se fechou para o mundo, desiludido com a política, com os jornalistas, com a vida. Mas nunca se fechou para nós, para sua familia. Nesta época passamos muitos momentos duros, dificultades financieras, escarnio público (quando o programa “Pânico” fez seu show na porta de minha casa), meu pai só queria estar em casa, mas soubemos vencer as dificuldades, minha mãe dizia que meu casamento até ajudou, porque levou a mente de todos nós para algo bonito. E naquela época, foi uma das únicas coisas que fazia meu pai reagir e tomar providências, como quando mesmo sem nunca sair de casa, se dispôs a ir comigo no Consulado da Espanha às 6 da manhã para esperar comigo na fila para o visto.

Bem, em janeiro de 2006 eu deixei o meu, o seu, o nosso Brasil. Foi duro, mas de certa forma bonito, porque eu estava deixando tudo, trabalho, familia, amigos, por um grande amor, aquele amor que a gente só encontra uma vez na vida. Em março deste mesmo ano me casei aqui na Espanha e felizmente meus pais vieram para cá e meu pai deu-me seu grande presente, que foi entrar comigo na igreja, levando-me até o altar. Vivemos momentos bonitos, mas meu pai naquele momento ainda não estava totalmente bem, ainda mais porque estava meditando sobre se voltar ou não ao panorama político por meio de uma candidatura a deputado federal. No fim, quase na mesma época em que descobri que estava grávida, outro grande sonho que eu levava em meu coração, meu pai decidiu que tentaria sua candidatura.

Eu, que sempre vivi todas as eleições pintada dos pés à cabeça com estrelas do PT e fotos dos candidatos, desta vez passei por todo este processo à distância, sem poder ajudar, apenas apoiando e acompanhando. Sofria nem tanto por não poder votar, já que depois do que aconteceu com meu pai eu tinha decidido que só votaria de novo nele e em você Lula, tal era minha desilusão, mas sofri em ter que acompanhar tudo de longe, sem estar lá para apoiar a toda minha família. Meus pais me contavam da expectativa, da possibilidade de uma vitória sua no primeiro turno, eram muitas as emoções encontradas e sabíamos que existia muita coisa em jogo.

Quando chegou o dia da votação, eu, grávida de 8 meses, estava uma pilha de nervos. Por culpa do fuso horário tive que ficar acordada até as 5 da manhã para saber o resultado. Jamais esquecerei aquele telefonema. Era meu pai, falando feliz, porém sereno, que sim, que ele tinha conseguido ser eleito. Eu só conseguia chorar, chorar e chorar. Nossa felicidade foi imensa, eu sabia o quanto aquela eleição era importante para todos nós, pensava que agora chegava o momento da volta por cima do meu querido pai e pudemos respirar aliviados olhando o recomeço com otimismo.

Mesmo assim, em um dos muitos telefonemas, meu pai confessou-me que sua felicidade não era completa pois estava preocupado com a sua reeleição, Lula, que no fim não pôde concretizar-se no primeiro turno. Desde o momento em que soube que existira um turno mais, para meu pai só existia isso, ele só falava disso e estacionou toda a emoção de ter conseguido ser eleito, para dizer um dia após o outro, “temos que eleger o Lula, Mimi…”. Foi em um destes dias que tive minha intuição.

Perto da votação do segundo turno, depois de uma destas conversas nas quais meus pais contavam como iam as coisas, os debates, as discussões, o medo, a esperança de uma reeleição, senti fortemente que para meu pai não era suficiente ter sido eleito deputado federal. Para ele conseguir lavar a alma, superar tudo, ele queria ajudar a eleger você Lula, como nosso presidente. Eu acho que você foi o político que conseguiu manter, mesmo nos momentos mais duros, a esperança e a confiança do meu pai na política. Ele sofreu muitas decepções, abandonos, desfeitas, mas nunca conseguiu desacreditar totalmente a política ou os políticos porque sabia que você seria alguém por quem ele sempre lutaria e batalharia.

Como dizia, em um destes dias, rezei fervorosamente para que Deus te ajudasse a ser eleito, e mesmo sem saber se isso um dia aconteceria, prometi, ainda grávida da minha filha, que se você ganhasse as eleiçoes e eu ficasse grávida de novo e fosse um menino, se chamaria Luís, em sua homenagem. Graças a Deus e ao povo brasileiro você ganhou, e eu, meu pai, tanta gente, pudemos respirar aliviados.




Minha filha Paula nasceu em novembro de 2006 trazendo paz e felicidade para todos nós. Ela veio para mostrar que tudo o que fizemos, tudo o que lutamos, os sacrificios vividos, o apoio dos meus pais para uma vida longe da filha, tudo tinha sentido e valia a pena.
Um ano e meio depois, no dia 8 de junho de 2008, nasceu nosso segundo filho, um menino, como não podia deixar de ser, e chamado Luís.

Meu marido Miguel pediu para que o nosso filhote se chamasse não só Luís, mas sim Luís Miguel, e nós hoje o chamamos carinhosamente de Luísmi. Ele é um bebê abençoado, iluminado, calmo e tranquilo que parece ter vindo como um presente de Deus para que todos sejamos felizes e transmitindo muita paz e alegria. É um bebê lindo, sorridente e de bem com a vida, e desde o momento em que o vi pela primeira vez, soube que não poderia ter escolhido melhor forma de homenagear ao meu presidente Lula.

Foi por isso Lula, que quis contar esta história. Queria que você soubesse da existencia do nosso Luís, da homenagem feita, da realização de um sonho e de um caminho longo que, ainda que muitas vezes duro, nos trouxe recompensas gratificantes e imensamente felizes. Eu criarei meus filhos longe do meu país, mas eles serão espanhóis também brasileiros e carregarão esta identidade com oprgulho, espero. Por isso me emocionei ao ver a certidão de nascimento deles legalizadas no Consulado do Brasil na Espanha e por isso sempre que pudermos, iremos ao Brasil mostrar suas raízes, uma parte de sua cultura.

Mas especialmente, Lula, criarei meu filho para que sempre faça jus ao nome que carrega, ao homenajeado que se encontra em sua existência, para que seja um ser-humano como o que vejo no presidente que presenteou o nome do meu filho: íntegro, justo, otimista, lutador e de bem com a vida.

Lula, se você chegou até aqui, muito obrigada por ler minha palavras, por conhecer a minha história e desejo de coração toda felicidade, força e paz do mundo para você e toda sua familia.

Um beijo carinhoso, Miruna 
                                                         

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