Na minha mente lembro bem de momentos de preocupação com pessoas amadas... um corte do meu irmão que precisou de sutura, a queimadura de minha mãe, e depois do meu marido, que necessitaram curativos cuidadosos, e mesmo torções dos meus filhos que demandaram uma corrida rápida ao hospital. Mas não lembro de grandes preocupações com a saúde de meu pai. Lembro de quando em 1992 ele descobriu a pressão alta e de um acidente de carro envolvendo uma vaca na pista que apesar de manchá-lo inteiro de sangue, não causou nem mesmo um arranhão.
Parece que de alguma forma a vida estava deixando que ele guardasse todas as energias e forças possíveis para o que iria enfrentar em julho de 2013, quando sua aorta começou a rasgar e durante 15 horas aguentou o que pôde até que mãos hábeis pudessem reparar o problema que quase lhe rouba a vida. Já falei de muitas formas sobre a dor que vivi quando a vida de meu pai esteve por um fio, e também sei e já escutei muita gente compartilhando comigo sobre o desespero e a angústia que é ter algum familiar entre a vida e a morte, ainda que, acredito eu, poucas destas pessoas depois tenham tido que conviver com a desconfiança alimentada publicamente, sobre a veracidade à respeito daquilo que quase tirou a sua alma. Talvez essas pessoas entendam a minha dor, a dor de minha família... porque nesses momentos onde um familiar está entre a vida e a morte não sabemos o que pensar, como esperar, para quem rezar, e por isso do jeito que dá, pedimos, clamamos, oramos, damos tudo o que temos dentro para tentar de alguma maneira superar aquele momento.
O que mais me dói é que meu pai superou uma situação médica dramática mas isso não foi suficiente para termos tranquilidade. Seu corpo foi guerreiro, foi vencedor e superou as estatísticas, os 10% de chances que o ligavam à vida, o micro-avc, a necessidade de vencer a internação hospitalar, mas ele nunca poderá respirar como antes daquele 24 de julho. Porque para sempre terá que estar atento à sua condição de hipertenso, de apresentar um alto risco cardiovascular, com a necessidade constante de controle que impeça de todas as formas que a diseccção volte a acontecer. Porque ela pode voltar a acontecer. E nosso coração sofre porque sabemos que ele pode não ter a mesma sorte, força, socorro de antes, e não vencer essa situação.
Diante do cenário, em quem confiar? Confio em minha mãe, sempre tão atenta aos cuidados alimentares de meu pai. Confio nos médicos que o acompanham, que pedem os exames necessários, decidem a medicação e nos indicam o caminho a seguir quando algo não acontece como o planejado. E confio na vida, que já mostrou por várias vezes que apesar do caminho tortuoso, de alguma forma quer que meu pai esteja por aqui por um bom tempo.
Mas, o que fazer, ou sentir, quando a vida de quem você ama, no caso, a vida de meu pai, pode ser colocada em risco a depender de uma decisão judicial? Simplesmente pedir. Pedir que para além de resultados de julgamentos, disputas políticas, acordos, trâmites e execuções, lembrem-se de que há uma vida. Uma vida que não representa apenas o político José Genoino, com seus apoiadores e detratores, como todo político, mas uma vida da qual dependem muitas outras. Nas mãos de uma decisão judicial está a vida do ex-deputado e ex-presidente do PT, mas está também a vida de um marido, um pai, um avô, um amigo, um tio, um filho, um homem, que tem sua saúde colocada em risco toda vez em que deixa-se de lado o humano e se coloca em discussão apenas o jurídico e o político.
No dia 19 de fevereiro de 2014 terminam os 90 dias concedidos a meu pai para que ele cumpra sua pena em prisão domiciliar. Eu aqui, de peito aberto, peço que o futuro da vida de José Genoino seja decidido com a razão, e não com a desconfiança. Com a verdade e não com a manipulação. Com a lógica e não com o risco. Com a verdade que todos sabem que existe: ele é uma pessoa que precisa de cuidados que nenhum presídio pode oferecer, e nas linhas de uma decisão judicial estão em jogo não apenas questões jurídicas, mas principalmente o respeito e o cuidado com com os altos riscos envolvidos na vida do homem José Genoino.
Vida essa que, espero eu, seja zelada como merece.
Miruna Genoino - 16 de fevereiro de 2014
No dia 19 de fevereiro de 2014 terminam os 90 dias concedidos a meu pai para que ele cumpra sua pena em prisão domiciliar. Eu aqui, de peito aberto, peço que o futuro da vida de José Genoino seja decidido com a razão, e não com a desconfiança. Com a verdade e não com a manipulação. Com a lógica e não com o risco. Com a verdade que todos sabem que existe: ele é uma pessoa que precisa de cuidados que nenhum presídio pode oferecer, e nas linhas de uma decisão judicial estão em jogo não apenas questões jurídicas, mas principalmente o respeito e o cuidado com com os altos riscos envolvidos na vida do homem José Genoino.
Vida essa que, espero eu, seja zelada como merece.
Miruna Genoino - 16 de fevereiro de 2014
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